terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

[dores]

dói-me a ....

Dói-me muito o corpo. Doem as costas, com o peso de anos e anos que finjo carregar. Dói a cabeça, pelos pensamentos incAutos que ninguém sabia que eu pensava, porque é isso que faz deles pensamentos. Doem as pernas de tanto andar, os pés de me arrastarem peLas ruas. Doem-me as mãos do frio invisível desse pico de Verão que ninguém percebe de onde vem mas que veio para ficar. Doem-me os olhos, inchados, vermelhos, chorões de mil mágoas que estão aqui apenas porque sim e porque me apetece que estejam - mesmo sem compreendê-las. Doem-me os músculos, apertados, agitados, atrofiados. E os ossos, que rangem, frios e frágeis. Dói-me o corpo todo, cada centímetro apagado por mais uma onda imaginária. Cada milímetro a desejar uM pedaço desse descanso que não tenho, desse sono que não vem, dessa vontade de apagar porque sim, porque a vida é só mais um interruptor. Dói-me o corpo da vontade. Porque só assim ele ainda pode doer. Dói-me o corpo de dores que não existem, porque não houve nada que as provocasse - tirando talvez aquela nódoa negra na perna, daquela luta onde não estive, do pontApé que não levei, da porrada que nunca existiu.
Dói-me tudo o que existe e o que não. Em cada batalha que se torna o simples respirar, dói.

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